Metáforas, PNL

A ave que não sabia voar

Posted by Cláudio Araújo
Não sei dizer como aquele ovo foi parar no ninho, talvez tivesse caído de alguma árvore e rolado. Era um pouco diferente dos outros, porém foi chocado com todos os outros e rendeu um pintinho saudável. Saudável e diferente dos outros da ninhada.Chiquita, a mamãe galinha, desfilava orgulhosa de seus pintinhos, apesar de ter um entre eles que não se parecia em nada com os outros.

Seus pintinhos aprendiam rapidamente a ciscar, enquanto Bisquim que nascera de um ovo diferente, precisava que lhe dessem comida no bico.

Chiquita não compreendia o porquê disso, achava que ele era um bicho preguiçoso. Como não queria que ele morresse de fome, porque nunca havia perdido um só de seus filhotes, então, colocava em seu biquinho os farelos de alimentos que ciscava pelo chão.

O tempo passou e Bisquim empenou, cresceu e foi ficando cada vez mais diferente. Ele até tentava ser igual aos seus irmãos pintinhos, só que era um pouco maior. Suas penas eram de um negro e prata e seu bico afiado como uma faca. Não fazia piu piu como os outros, apesar de até que se integrar muito bem entre eles.

Sua mãe Chiquita começou a perceber que Bisquim não era uma ave qualquer. Possivelmente, era de outra espécie e tinha outra missão na natureza. Então, um dia resolveu consultar a Senhora Coruja: a mais sábia de todas as aves.

Levou Bisquim à sua presença e perguntou o que havia de errado com ele. Senhora Coruja observou e meditou. Depois deu voltas, olhou por todos os lados e meditou. E observou mais e meditou mais. Então, deu sua resposta: “Bisquim não é uma galinha, é um falcão! Não nasceu para ficar no chão ciscando, nem para cacarejar, nem para cantar o Sol da manhã. Ele nasceu para liderar os céus. Para voar alto e caçar. Ele deve seguir seu caminho, pois, entre as galinhas será sempre incompleto e infeliz.

Chiquita ficou muito preocupara com a resposta da Senhora Coruja pois sabia que os falcões caçam os pintinhos e sentiu muito medo. Foi conversar com seu filhote Bisquim: “Eu sei que você precisa ir, mas tenho medo que um dia venha me caçar ou caçar seus irmãos pintinhos”.

Bisquim por sua vez respondeu apavorado: “Mamãe, por que não posso simplesmente ficar com vocês e agir como se eu fosse também uma galinha? ”

Mamãe Chiquita respondeu: “porque cada um tem que cumprir sua missão na natureza. Eu adoraria que você continuasse vivendo entre nós, se essa fosse sua sina. Agora, você deve ouvir o que Senhora Coruja tem a lhe ensinar e tomar o seu caminho. ”

Bisquim acabou seguindo a coruja para aprender com ela. Em sua mente uma grande preocupação lhe perturbava: “como eu posso agir como um falcão se eu não sei nem voar? Todos os falcões nascem sabendo voar, eu aprendi a ciscar! Não sou como os outros.

Senhora Coruja que podia ler os pensamentos de todas as aves lhe dizia: “não se preocupe Bisquim, quando chegar a hora de voar, você vai voar: os falcões não voam porque nascem com esse conhecimento, eles voam porque suas mães falcões os empurram do ninho e, então, eles simplesmente voam. ”

Bisquim novamente teve pensamentos de insegurança: “Eu não deveria frequentar, então, uma escola de aviação como fazem os humanos e aprender sobre aerodinâmica, sobre física e sobre navegação?

Senhora Coruja leu seus pensamentos de insegurança e respondeu: “Os humanos estudam todas essas coisas porque não carregam em si a natureza de voar. Já as aves voam quando chega a hora e não precisam saber de ciências, só precisam se soltar do galho em que se acham firmes e então perceberão que o vento lhes pertence!

Bisquim era muito insistente em suas preocupações e também pensava no medo de se tornar um caçador e um dia devorar seus irmãos de criação, os pintinhos!

Só que Senhora Coruja está sempre um passo à frente e lhe ensinou: “Os caçadores como as aves de rapina tem o privilégio de poder escolher o que vão caçar. Claro que alguns preferem pegar os pintinhos e aves rasteiras que são presas fáceis e indefesas. Outros, com um nível maior de consciência escolhem caçar os ratos que transmitem doenças e as serpentes que também caçam as aves rasteiras como as galinhas! Sabe que o trabalho desses caçadores é muito importante, pois são protetores das primos aves que vivem no chão e que não podem voar, ficando a mercê de outros predadores. Que tipo de caçador você escolhe ser?

Bisquim estava cada vez mais encantado com as palavras da Senhora Coruja. Começava a perceber que ele poderia sempre escolher entre ser um predador ou ser um protetor e isso o deixou mais seguro. Sabia que seu amor pela sua mãe de criação, a galinha Chiquita sempre o impulsionaria a se tornar um protetor e nunca um agressor!

Agora me pergunte, caros leitores, como é que Bisquim aprendeu a voar sem nunca ter frequentado uma escola de aviação com nós humanos evoluídos e cheios de nossa ciência?

Certo dia Senhora Coruja levou Bisquim para o alto de uma árvore que ficava perto do galinheiro onde ele havia crescido. Foi bem difícil ele subir, pois estava acostumado a viver no chão com as outras galinhas e ser cuidado como um pintinho.

De lá de cima Bisquim avistou seus irmãos de criação ciscando pelo chão. Sentiu saudades deles e do tempo que era simplesmente um pintinho sendo cuidado por sua galinha mãe. Era simplesmente um filhote e não tinha preocupações. Ai que vida boa!

Enquanto observava a cena percebeu que próximo ao galinheiro havia algo espreitando entre a grama rasteira: corria liso e escorregadio no gramado e ia em direção aos outros pintinhos que, por sua vez, não faziam a menor ideia do risco que estava correndo. Então, Bisquim chamou a Senhora Coruja, que não lhe respondeu, pois, de caso pensado, havia deixado ele sozinho para enfrentar aquela situação. E Bisquim teve muito medo. Não teve medo de pular da árvore e caçar a serpente que ameaçava seus irmãos de criação, não, isso não. Teve medo de não fazer nada e ver seus irmãos rendidos ao mal que os cercava! Então, naquele instante percebeu que ele deveria agir mesmo não sabendo muita coisa sobre caçar, mesmo não sabendo muita coisa sobre voar.

Num instante mágico, seu coração se recordou do tempo que viveu no galinheiro e que Chiquita, com muita paciência e contragosto colocava comida em seu bico e, reconheceu que ela, mesmo não entendendo porque seu filhote esquisito não ciscava com os outros pintinhos, tinha um profundo amor e desejo de que ele sobrevivesse e se tornasse uma bela ave.

Então, Bisquim encheu-se desse amor e pulou do alto do galho onde estava, abriu suas asas e sem saber como, ele simplesmente voou! Mirou suas garras na direção da serpente que rastejava ameaçadora já muito próxima ao galinheiro e… “craft!!!!” Pegou-a.

Levou para longe, onde ela não poderia voltar. O poso foi meio estranho, meio desengonçado, porque não tinha prática nenhuma. Também foi difícil controlar o voo e a direção. Conseguiu!

Claro que ia conseguir: o que lhe guiou não foi o conhecimento, foi o amor por seus irmãos da terra.

Bisquim percebeu que Chiquita, sua mãe de criação, seria sempre sua mãe, mesmo que ele estivesse vivendo nos galhos altos das árvores. Percebeu que não deixaria de ser filho dela, pelo contrário, como filho e grato pelo cuidado que recebeu em filhote, agora estava empenhado em proteger sua família de criação, tomando para si essa missão.

Com o tempo, Bisquim se tornou uma lenda entre as galinhas: todas sabiam que de entre elas emergiu um anjo protetor: enquanto Bisquim estivesse ali por perto elas estariam protegidas das serpentes traiçoeiras e de outras aves de rapina que pudessem querer se aproveitar da fragilidade que elas tinham por viverem somente na terra.

Se Bisquim estava longe de ser o falcão mais sábio e mais esperto, ah… isso todo mundo das galinhas já sabia. Bisquim era querido porque cresceu comum, igual a todas as outras galinhas, o que lhe tornou diferente, foi aceitar sua missão de proteger e guiar o destino do galinheiro.

Quando Senhora Coruja foi morar no céu das aves e se encontrar com a Águia Maior, ela disse: “meu maior orgulho foi ver um pintinho se tornar um falcão e proteger os outros pintinhos” e a Águia Maior lhe respondeu: “Fui Eu quem misturei um ovo de falcão com os ovos das galinhas para mostrar que sou sempre Eu quem escolho a missão de meus filhos!

Related Post

Leave A Comment