Metáforas, PNL

A viagem – uma reflexão sobre a Vida e a Morte

Posted by Cláudio Araújo

Nasci numa cidadezinha beira mar muito linda.
Cercada de montanhas, rios e cachoeiras, com uma enseada maravilhosa, de ondas suaves, cheia de peixes coloridos e estrelas do mar.
O povo de minha cidade é generoso, sorridente, prestativo, muito amigo.
Meu pai, cheio de sabedoria, sempre me fez sentir pleno de amor e acolhimento, e também sempre se preocupou com o meu crescimento, estimulando minha imaginação e criatividade.
Deixou-me crescer livre, correndo pelas matas que cercam a cidadezinha, fazendo muitos amigos, comendo dos frutos de toda espécie de árvores e plantas nativas.
Ensinou-me a generosidade, o amor e o carinho para com todas as coisas e com todas as pessoas. Assim também o fez com todos os meus irmãos, e olha que são muitos!
Quando completei certa idade, Ele me chamou para conversar e me disse:
_Vejo que estás crescendo e logo se tornará um homem e, para que isso seja feito, chegou o momento de você se mudar para a cidade grande onde poderá estudar e aprender muitas coisas que o ajudarão a ser tornar um verdadeiro Homem.
Fiquei muito apreensivo, a princípio. Tive muitos irmãos que foram morar na cidade grande.
Alguns voltaram Homens feitos e verdadeiros. Outros, ainda não voltaram. Ouvi dizer que se perderam e estão perambulando de cidade em cidade, buscando aprender o que lhes falta para se tornarem maduros, enquanto outros estão trabalhando para consertar os erros que cometeram quando chegaram nas tais cidades grandes.
Também soube de irmãos que após voltarem de sua estadia, descansaram por algum tempo e, ao se sentirem seguros, foram trabalhar na cidade grande para procurar os seus irmãos que lá haviam se perdido.
Mesmo meu Pai sendo infinitamente amoroso, eu sabia que o único jeito de eu crescer e me tornar um Homem semelhante a Ele seria aceitando a jornada e reaprendendo, lá na cidade grande, tudo o que ele havia me ensinado.
Então, parti.
O ônibus que me levou era muito pequeno e apertado. Não havia bagageiro, então, só podia levar comigo aquilo que eu pudesse carregar em minhas mãos.
A viagem foi demorada. Acho que uns nove meses. Passei boa parte do caminho dormindo e sonhando com minha cidadezinha tão linda, com meus irmãos que lá ficaram e com meu Pai querido.
Quando cheguei na cidade grande fui logo acolhido por um pai e uma mãe adotivos que se empenharam muito para me alimentar, me vestir e cuidar de mim.
Me ensinaram a língua falada na cidade. Me ensinaram a caminhar pela cidade. Me ensinam os valores da cidade, muitos deles, bastante semelhantes aos valores que meu Pai Verdadeiro já havia me ensinado.
Com o tempo, a saudade de casa foi desaparecendo e aprendi a amar meus pais adotivos de forma muito intensa e especial.
Cresci, fui à escola, fiz muitos novos amigos, recebi outros irmãos adotivos aos quais me apeguei muito.
Conheci uma pessoa. Me apaixonei e fui morar com ela.
Um dia, sem esperarmos, recebemos um presente: iríamos adotar um irmãozinho que vinha lá da minha cidade natal. Dele cuidamos como se fosse nosso. O amamos, amamentamos, ensinamos, educamos…
Fiquei por muito anos na cidade grande.
Vi muitas pessoas chegarem e partirem. Vi coisas maravilhosas como o ônibus que trazia novos moradores e levava outros embora, após terem cumprido sua escola.
Também vi coisas tristes, irmãos que abandonaram a cidade grande, tentaram pegar o ônibus de volta, mas ficaram perdidos pela estrada, muito feridos e angustiados.
Vi um irmão empurrar outro para dentro do ônibus a força, só para lhe tomar seus pertences.
Também vi irmãos dedicarem toda a sua estadia na cidade grande para cuidarem de outros irmãos, sem lhes pedir absolutamente nada em troca.
Me encantei, chorei, ri, sorri, dancei, cantei, pintei, trabalhei. De tudo um pouco eu fiz.
Até que um dia, já cansado e envelhecido da cidade grande, percebi que chegara a hora de voltar para minha cidade natal. Bateu a saudade de meu Pai.
Aos poucos fui me despedindo dos irmãos que ali deixaria e comecei a preparar as malas para a volta.
Foi então que me atentei que o ônibus que me levaria de volta para casa não possui bagageiros, e assim como eu vim, deveria retornar, carregando somente o que coubesse em minhas mãos.
Despedi-me do meu carro e agradeci. Despedi-me de minha casa e agradeci. Despedi-me de minhas roupas, computador, do meu piano, de todos os meus pertences e profundamente agradeci. Enquanto estive na cidade grande, me foram úteis, e agora já não precisaria mais deles. Então só agradeci.
Olhei uma última vez para os olhos de meus irmãos e embarquei no ônibus.
Na viagem de volta fizemos algumas paradas. Conheci outros amigos, que me trataram com muito carinho.
Levou algum tempo para eu chegar em minha cidade natal.
Novamente, assim como na vinda, me senti apreensivo: o que eu encontraria por lá? Como meu Pai me receberia? Eu não estava levando nenhum presente para Ele, pois nada podia ser levado no ônibus.
Cheguei numa bela manhã. Tempo gostoso e ensolarado. Nem muito quente, nem muito frio. Apenas confortável.
Olhei ao meu redor e aos poucos reconheci a praia, as montanhas, uma cachoeira ao longe.
Muitos amigos de infância esperavam por mim. Todos com um sorriso cativante. Abracei um por um. Reencontrei até um de meus filhos adotivos que havia partido antes de mim. Ficara pouco na cidade grande.
Então me levaram até meu Pai.
Ele me recebeu com um grande abraço.
Esperava que Ele me perguntasse o que eu tinha trazido da viagem e de toda experiência que vivi.
Ele nada me perguntou. Apenas me abraçou e me acolheu.
Mais tarde, já refeito da longa viagem, Ele me chamou até a biblioteca da cidadezinha.
Lá me mostrou um grande álbum de fotografias.
Me encantei ao ver fotos de povos de todas as épocas, e nas fotos, somente momentos felizes eram retratados.
Também estranhei que todos os rostos pareciam ser muito semelhantes. E todos lembravam as feições de meu Pai.
No último capítulo deste álbum estava fotos da minha estada na cidade grande. Somente fotos dos momentos felizes.
Percebi novamente que todos os rostos lembravam as feições de meu Pai.
Foi assim que compreendi que eu e meu Pai, e todos os meus irmãos e meu Pai, somos Um.
Visitamos a cidade grande simplesmente para crescer com sua diversidade. No entanto, nossa casa verdadeira é a casa de meu Pai.

Para refletir:

Você está pronto para tomar este ônibus, a qualquer momento, e retornar à casa de seu Pai?
Você é grato por tudo o que têm aprendido na cidade grande, por todos as pessoas que lhe foram amigas e por todas as coisas que lhe foram tão úteis neste aprendizado?

Um abraço no coração.

Related Post

2 thoughts on “A viagem – uma reflexão sobre a Vida e a Morte

  1. Miriany

    Gratidão pela generosidade de compartilhar a sabedoria do seu coração, palavras belas e reconfortantes. A morte não existe, é só uma viagem, um retorno para casa, a casa do nosso Pai.

  2. Gloria C Lemos

    Respondendo aos questionamentos da sua “viagem” diria que sim (por experiências ligadas ao tema)
    .. e não. .porque só podemos saber se estamos
    preparados depois da própria experiência! !

Leave A Comment