PNL

O Mapa Não é o Território

Posted by Cláudio Araújo
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Já passei pela experiência de estar dirigindo com a ajuda de um GPS e, em determinado momento, a maquininha me ordenou que fizesse uma certa curva à esquerda que me colocou de frente com uma rua fechada, ou com a entrada de uma favela ou simplesmente uma mão contrária. Isso acontece porque os mapas internos do GPS não foram atualizados corretamente, portanto, ele sugere um certo caminho, mas no mundo real esse caminho simplesmente não existe.

Será que isso acontece fora do GPS também? Esse é o nosso tema de hoje.

Cada indivíduo carrega dentro de sua mente uma descrição do mundo. Melhor dizendo, uma descrição do seu próprio mundo. Essa descrição do mundo de cada pessoa é o resultado de três tipos de filtros que operam dentro da mente humana: a generalização, a omissão e a distorção.

Claro que o leitor pode estar pensando nesse momento que construímos nossa descrição de mundo a partir de nossa educação, nossa experiência e nossa observação, o que é muito lógico, mas não é tão simples assim.

Quando observamos o mundo ao nosso redor, cada informação que colhemos dele é sistematicamente filtrada pela nossa mente, comparada com as informações anteriores, estendida para informações futuras ou simplesmente modificada.

Quando entendemos um informação aprendida, como por exemplo: para cozinhar o arroz precisamos acender o fogo, colocar o arroz e acrescentar a água e o tempero, deixar ferver até secar e está pronto, então, passamos a pensar que qualquer coisa que formos cozinhar, provavelmente, poderá usar o mesmo processo: fogo, água, ingrediente, ferve até secar e acabou. O mesmo se aplica quando aprendemos a abrir uma torneira: abriu uma, abriu todas. Esse filtro mental chamamos de generalização: assumimos que o que é verdade para uma situação será verdade para todas as outras.

Porém, ao compararmos o ato de abrir uma torneira com o ato de cozinhar começamos a perceber que a simples generalização da informação apreendida não é capaz de resolver todos os problemas, já que não podemos cozinhar batatas seguindo o mesmo procedimento de cozinhar arroz, por mais que sejam, de certa forma, tarefas muito semelhantes. Então, precisamos adaptar o processo ou buscar instruções e novos aprendizados.

O que acontece quando buscamos esses novos aprendizados, como cozinhar as batatas? Pegamos o livro de receitas da vovó e começamos a procurar alguma que resolva a questão. De certo encontraremos ali receitas para muitos pratos diferentes, mas, de repente, nossos olhos só conseguem enxergar a palavra batata. Neste caso, nossa mente está se apoiando num tipo de filtro chamado omissão: ignoramos ou omitimos tudo que não tem a ver com batatas.

Por fim, se não encontrarmos uma solução no nosso livro de receitas, a nossa mente ativa um outro filtro chamado distorção: ela junta tudo o sabe a cerca de cozinhar alimentos e coisas ligadas ao tema e começa fazer experimentações mentais, ou suposições e combinações de ideias até que de repente descobre um novo jeito de preparar as batatas. É a criatividade em ação.

Esses três filtros operando dentro da mente faz com que cada indivíduo experimente a realidade uma forma muito particular e diferente dos demais indivíduos e, por isso, cada um acaba por criar um mapa de mundo exclusivo.

É aí que começam os problemas!

Temos a tendência de acreditar que todas as pessoas estão vendo o mundo exatamente da mesma forma, que se eu olhar para uma nuvem e enxergar a forma de um cavalo, todo mundo vai ver um cavalo. Chegamos mesmo a ficar irritados com o colega que olhou para as nuvens e viu um coelho. “Como é que você não está vendo um cavalo?”.

É a mãe que grita com a criança: “menino não está vendo a meia aí na sua frente”, o pai que vai aparar a grama e corta as mudinhas de hortelã, o chefe que olha o cliente e enxerga lucros contra o empregado que olha o mesmo cliente e enxerga problemas.

Uma pessoa começa a ter um sintoma no braço esquerdo, uma espécie de repuxos acompanhado de formigamento: o cardiologista dirá: “está tendo um infarte”, o reumatologia aposta numa inflamação muscular, o psiquiatra vai dizer que trata-se de um surto psicótico, o pai-de-santo fala que é um ataque de obsessores e a mãe da criança simplesmente diz “para de frescura meu filho”. E quem está correto?

É natural os pais acharem que estão ensinando alguma coisa para seus filhos, é natural que professores acreditem que estão ensinando alguma coisa para seus alunos e por vai… Na prática não ensinamos nada para ninguém. O processo é exatamente o inverso: nós é que aprendemos absorvendo tudo o que percebemos ao nosso redor e aplicando sobre essa percepção os filtros da mente: generalização, omissão e distorção e, então, criamos nosso mapa de mundo, único, exclusivo, sem nenhuma repetição mesmo entre todos os habitantes do planeta.

Costumo explicar para meus clientes, quando se colocam numa posição muito rígida em relação ao problema que estão tentando resolver, que existem sete bilhões de formas diferente de resolver a mesma questão e todas elas estão corretas!

Quem somos nós para afirmar que a visão de mundo de alguém esteja errada se essa é a única visão de mundo que esse alguém conhece? E nós nunca vamos enxergar o mundo por outro ponto de vista que não seja o nosso próprio. Podemos ouvi-lo, podemos fazer um exercício de mudança de nossa posição perceptiva, mas não podemos sentir o que o outro está sentindo, e se conseguirmos atingir esse ponto, a nova visão de mundo passará a ser a nossa verdade sobre o mundo e, mesmo assim, sofrerá a influência dos nossas mapas e filtros mentais.

Cada um, no seu momento mais apropriado, é que poderá perceber que sua visão de mundo, sua opinião, sua percepção talvez não seja mais adequada, talvez esteja limitando seu processo de agir, seus recursos para transformar sua vida, sua capacidade de lidar com seus desafios. Já escutei várias vezes frases do tipo “alguém tem que dizer pra ele que ele está errado”. Eu penso que se ele tivesse condições para perceber que está errado, não estaria mais agindo errado. Em segundo lugar, ele está errado sob o ponto de vista de quem exatamente?

Imagine uma orquestra. De repente o fagote começa a tocar com a afinação um pouco acima do resto da orquestra, mas não percebe que está desafinando, então duas coisas podem acontecer: ou o fagote abaixa sua afinação ou a orquestra eleva a afinação de todos os instrumentos, e qualquer forma o resultado final será a música mais afinada. Se aprendermos que cada um tem um mapa diferente, resultado da sua experiência de vida, também aprenderemos que essa riqueza de mapas e opniões não precisa ser causa de conflitos. Voltemos para a orquestra: se todos os músicos escutarem o que os seus colegas estão tocando e compreenderem que a afinação é relativa à sua percepção, então quem tem a melhor percepção é que deverá corrigir sua afinação para se enquadrar ao grupo e é assim que fazemos música.

Em PNL chamamos isso de flexibilidade.

Para mim é quase um ato de compaixão, é deixar o próprio ego de lado e escutar o outro. Eu não preciso concordar com o que ele diz, mas farei de tudo para que ele possa continuar dizendo. Ou, eu não vou concordar com sua opinião, mas agora eu sei qual é a sua opinião. Ou, “sabe que eu não tinha pensado dessa forma ainda? Me fale mais a respeito”. Fim do conflito.

A flexibilidade permite que nós adaptemos nosso mapa de mundo ao mapa do nosso semelhante para nos aproximarmos dele e como resultado primário o nosso mapa de mundo de expande. Estou quase dizerndo que ao ouvir o outro nos tornamos mais inteligentes, pois além de saber qual é a nossa visão primária da questão também passamos a ter a visão do outro como uma referência secundária e, porque não dizer, potencialmente correta do problema? E se eu é quem estou errado a respeito disso ou daquilo? meu mundo não se tornaria muito melhor fazendo esse pequeno ajuste no meu mapa?

É como literalmente ligar para a central de controle do GPS e informar que aquela rua que estava no mapa agora mudou de direção. As chances de eu errar o caminho no futuro serão muito reduzidas.

Para refletir:

O quanto meu mapa de mundo é capaz de descrever o mundo real?

O que eu posso fazer para tornar minha percepção da realidade mais próxima dos resultados que desejo ter em minha vida?

O quanto eu sou capaz de aceitar o mapa de mundo das pessoas que me cercam sem usar de qualquer julgamento que se baseie no meu próprio mapa?

Abraço no coração.

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