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Como a mente aprende novas emoções

Posted by Cláudio Araújo

Série Para Terapeutas

Analisando a experiência de uma pessoa ao assistir um filme e, anos depois, ao assistir um remake deste filme, já com muito mais tecnologia e efeitos especiais, é comum as pessoas relatarem que ao assistir a segunda versão do filme não sentiram o mesmo impacto que haviam experimentado quando assistiram a versão original.

Como isso se processa?

A mente humana não é capaz de transformar em discurso todas as informações que passam pelo sistema límbico, ou seja, pela parte do cérebro que processas as emoções. Então, uma forma de representar essas informações é através de metáforas: histórias que tentam reproduzir os mesmos padrões emocionais e nossa mente se utiliza de muitos filtros que acabam modelando o discurso segundo nossas crenças e valores, segundo nossa experiência previamente adquirida (cultura geral) e segundo as próprias emoções que estão sendo sentidas no momento em que o discurso é gerado.

Voltando ao filme, o que nós lembramos da história é uma mistura entre o conteúdo objetivo da narrativa – fatos, personagens, imagens, trilha sonora – e as emoções que sentimos naquele momento, ou seja, a experiência que tivemos ao assistir ao filme. Isso cria em nossa mente uma expectativa, ou seja, um conhecimento prévio que se espera encontrar na nova versão da história e que nunca será atingido da mesma forma, pois, o remake do filme consiste de uma nova experiência e não de uma experiência similar.

O aprendizado que uma história nos deixa pode até mesmo passar por uma ressignificação, ou podemos simplesmente absorver novas informações, que se acrescentam ao que já tínhamos experimentado, mas de forma alguma podemos comparar as experiências, pois não é possível mensurar de objetivamente os níveis de cada emoção que a experiência gerou, já que as emoções são armazenadas na memória de forma subjetiva.

Por exemplo, você pode dizer que na primeira versão do filme você se emocionou tanto que até chorou, mas que na segunda versão você não sentiu a mesma emoção. Isso acontece porque quando você assistiu ao filme pela primeira vez, você não conhecia final da história, tendo o elemento surpresa dissolvido no complexo das emoções gerados no desenrolar de cada cena. Ao assistir o remake, você já tinha uma boa ideia de como a história iria terminar e mesmo que a nova direção propusesse variações para o final, você não foi atingido da mesma forma, porque em algum lugar na sua mente, você esperava o mesmo final e um novo final não se encaixa no padrão de emoções que você já havia experimentado.

Mas isso não significa que ao assistir um remake de filme você sempre se decepcionará. O inverso também pode acontecer se na sua primeira versão você teve uma experiência de menor impacto. Então, sua expectativa para o remake já começou com um grau mais baixo e, a menos que você coloque muita resistência para aceitar que pode haver uma maneira melhor de se contar a mesma história, menos expectativa quase sempre pode resultar em mais impacto emocional, por simples comparação.

Dentro desse processo podemos perceber que sempre existe uma evolução do indivíduo entre um momento e outro. Seguindo uma lógica simples: um indivíduo assiste Romeu e Julieta pela primeira vez e nesse momento ele ainda não sabe que eles morrem no final. Para qualquer nova versão da história, o mesmo indivíduo já acrescentou no seu universo de possibilidades que “sim, os personagens podem morrer no final” e isso passa a ser esperado gerando uma dualidade: se alguém contar Romeu e Julieta finalizando com a morte no final o indivíduo não irá se impressionar e se alguém criar um novo fim, no qual os dois vivem felizes para sempre, o indivíduo terá a sensação de que isso não se encaixa em sua experiência, pelo menos até aquele instante. No entanto, essa nova experiência passa a integrar o mapa mental do indivíduo que acaba expandindo seu universo, porque agregou novas possibilidades em um sistema que antes estava mais limitado.

A questão aqui é não entrarmos na discussão de qual experiência é melhor: se a primeira versão ou se o remake, pois cada experiência guarda suas próprias emoções e gera seus próprios insights, de forma que o indivíduo é muito mais atingido pelo o que ele já possui internamente como expectativa, do que pelo que ele recebe do meio externo como informação.

Todas as nossas experiências são confrontadas com as informações já existentes no sistema e quando a mente não encontra uma relação direta, ela tenta estabelecer paralelos com informações já existentes, mesmo que na observação direta essas duas informações sejam completamente desconexas. A razão (regida no cérebro pelo neocortex) tenta, assim, uma série de argumentações para justificar todos os comportamentos que forem gerados a partir desse confronto de informações.

Esse fenômeno me faz lembrar dos Marcadores Somáticos descrito pelo neurologista português António Damásio que afirma que cada experiência recebe uma espécie de etiqueta indicando o grau de prazer ou de dor sentido ao vivenciar tal situação e, as novas experiências são comparadas com aquelas anteriores de forma a determinar que tipos de expectativas, decisões e comportamentos poderão ser escolhidos pela mente racional, concluindo portanto, que todos os comportamentos surgem em resposta a uma determinada emoção.

Claro que essas tais etiquetas são uma metáfora para um complexo de sentimentos relacionados com a experiência vivida e não um grau matemático ou objetivo de classificação das mesmas. Porém, o que é fundamental compreender é que a percepção do indivíduo nunca é direta, objetiva, ou absoluta, mas sempre relativa ao conjunto de experiências prévias e as percepções já conhecidas dessas experiências.

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